quinta-feira, 13 de maio de 2010

O LOUCO

           
            Perguntais-me como me tornei louco.
            Aconteceu assim:

            Um dia, muito tempo antes
            De muitos deuses terem nascido,
            Despertei de um sono profundo
            E notei que todas as minhas máscaras
            Tinham sido roubadas
            As sete máscaras que eu havia
            Confeccionado e usado em sete vidas
            E corri sem máscara pelas
            Ruas cheias de gente, gritando:

            "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

            Homens e mulheres riram de mim
            E alguns correram para casa, com medo de mim
            E quando cheguei à praça do mercado,
            Um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:

            "É um louco!"

            Olhei para cima, para vê-lo.
            O sol beijo pela primeira vez minha face nua.
            Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
            E minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
            E não desejei mais minhas máscaras.
            E, como num transe, gritei:


            "Benditos, bendito os ladrões
            que roubaram minhas máscaras!"
            Assim me tornei louco.


            E encontrei tanto liberdade
            Como segurança em minha loucura:
            E a segurança de não ser compreendido,
            Pois aquele desigual que nos compreende
            Escraviza alguma coisa em nós.


                                           KHALIL GIBRAN

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