quinta-feira, 17 de junho de 2010

CONHECER-SE VALE A PENA...

             Todo mundo tem medo da intimidade - se você tem consciência disso ou não, é outra coisa. Intimidade significa expor-se perante um estranho - e somos todos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos estranhos até para nós mesmos, porque não sabemos que somos.

              A intimidade aproxima você de um estranho. Você tem de baixar todas as suas defesas; só então a intimidade é possível. E o medo é tanto que se você baixar todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho fará com você? Todos escondemos mil e uma coisas, não só dos outros mas de nós mesmos, porque somos produtos de uma humanidade doente, com todos os tipos de repressões, inibições, tabus. E o medo é tanto que com alguém que seja um estranho - e não importa que você tenha vivido com a pessoa por dez, vinte, quarenta ou sessenta anos: a estranheza nunca deixa de existir - parece mais seguro manter algum tipo de defesa, uma certa distância, porque o outro pode levar vantagem sobre as suas fraquezas, sobre as suas fragilidades, sobre a sua vulnerabilidade.

              Na realidade todo mundo tem medo mesmo da intimidade.  O problema se complica ainda mais porque todo mundo quer intimidade. Todo mundo quer intimidade porque, do contrário, estaríamos sozinhos no universo - sem amigos, sem um amor, sem alguém em quem confiar, sem ninguém a quem você possa abrir as suas feridas. E as feridas não podem se fechar a menos que estejam abertas. Quanto mais você as esconde, mais periosas elas se tornam.  Por um lado a intimidade é uma necessidade essencial, portanto todo mundo anseia por ela. É preciso conhecer-se:  "O conhecimento de si mesmo só é possível na mais completa solidão."  Comumente, tudo o que sabemos sobre nós mesmos é a opinião dos outros. eles dizem "você é bom", e achamos que somos bons. Eles dizem "você é bonito", e lá vamos nós se olharmos no espelho e se acharmos que somos bonitos. Eles dizem "você e mau" ou feio... tudo o que as pessoas dizem a nosso respeito nós continuamos colecionando. Isso se torna a nossa própria identidade, mas é completamente falso, porque ninguém pode conhecer você - ninguém pode saber quem você é a não ser você, você mesmo. Tudo o que as pessoas conhecem são apenas aspectos e esses aspectos são muito superficiais. Tudo o que elas conhecem são apenas humores momentâneos; as pessoas não podem entrar no seu âmago. Nem mesmo a pessoa amada pode penetrar no verdadeiro âmago do seu ser. Ali você é completamente só e apenas ali será possível saber quem você é.

              As pessoas passam a vida inteira acreditando no que os outros dizem, dependendo dos outros. É por isso que as pessoas têm tanto medo da opinião alheia. Se eles pensam que você é mau, você se torna mau. Se eles censuram você, você começa a se censurar. Se dizem que você é um pecador, você começa a se sentir culpado. Por ter de depender da opinião deles, você tem de se conformar o tempo todo com as ideias deles; do contrário, eles vão mudar de opinião. Isso cria uma escravidão, uma verdadeira escravidão muito sutil. Se você quer ser conhecido como bom, merecedor, bonito, inteligente, então você tem de se render, tem de se comprometer o tempo todo com as pessoas de quem depende.

             E a complexidade é muito grande porque existem milhares de pessoas ao seu redor.
             Você entra em contato com muitas pessoas e todo mundo alimenta a sua mente com as próprias ideias. E ninguém..., ninguém... conhece você - nem mesmo você se conhece - portanto, toda essa coleção se torna uma desordem dentro de você.

              No entanto, por depender dos outros, você tem medo de ficar sozinho - porque, no momento em que começa a ficar sozinho, você começa a ter muito medo de se perder. Você, antes de mais nada, não tem a si mesmo; mas qualquer que seja o eu que você tenha criado a partir da opinião dos outros terá de ser deixado para trás.

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