domingo, 15 de agosto de 2010

AQUI EU TE AMO. (POESIA DO POETA CHILENO PABLO NERUDA)

"Aqui eu te amo.
  Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
  Fosforece a lua sobre as águas errantes.
  Andam dias iguais a perseguir-se.

  Descinge-se a névoa em dançantes figuras.
  Uma gaivota de praia se desprende do ocaso.
  As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.
  Ou a cruz negra de um barco.
  Só.
   As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
   Soa, ressoa o mar distante.
   Isto é um porto.
   Aqui eu te amo.

   Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
   Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
   As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
   que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
   Já me creio esquecido como estas velha âncoras.
   São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
   Cansa-se minha vida inutilmente faminta...
   Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

   Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
   Mas a noite enche  começa a cantar-me.
   A lua faz girar sua arruela de sonho.

   Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
   E como eu te amo, os pinheiros no vento,
   querem cantar o teu nome, com suas folhas de
   cobre."

                    
                           (Pablo Neruda)

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