sábado, 14 de agosto de 2010

O TEU RISO (POESIA DE PABLO NERUDA)

"Tira-me o pão, se quiseres,
  tira-me o ar, mas não
  me tires o teu riso.

  Não me tires a rosa,
  a lança que desfolhas,
  à água que de súbito
  brota da tua alegria,
  a repentina onda
  de prata que em ti nasce.

  A minha luta é dura e regresso.
  Com os olhos cansados
  às vezes por ver
  que a tem não muda,
  mas ao entrar teu riso
  sob ao céu a procurar-me
  e abre-me todas
  as portas da vida.

  Meu amor, nos momentos
  mais escuros solta
  o teu riso e se de súdito
  vires que o meu sangue mancha
  as pedras da rua,
  ri, porque o teu riso
  será para as minhas mãos
  como uma espada fresca.

  Á beira do mar, no outono,
  teu riso deve erguer
  sua cascata de espuma,
  e na primavera, amar,
  quero teu riso como
  a flor que esperava,
  a flor azul, a rosa
  da minha pátria sonora.

  Ri-te da noite,
  do dia, da lua,
  ri-te das ruas
  tortas da ilha,
  ri-te deste grosseiro
  rapaz que te ama,
  mas quando abro
  os olhos e os fecho,
  quando meus passos vão,
  quando voltam meus passos,
  nega-me o pão, o ar,
  a luz, a primavera,
  mas nunca o teu riso,
  porque então morreria."


             (Pablo Neruda)

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