quarta-feira, 1 de setembro de 2010

OS FILHOS (DO LIVRO - O PROFETA)

UMA MULHER QUE CARREGA O FILHO
NOS BRAÇOS DISSE: " Fala-nos dos filhos."


E ele falou:

"Vossos filhos não são vossos filhos.
  São os filhos e as filhas da ânsia da vida por
  si mesma.
  Vêm através de vós, mas não de vós.
  E embora vivam conosco, não nos pertencem.
  Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos
  pensamentos.
  Porque eles têm seus próprios pensamentos.
  Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
  Pois suas almas moram na mansão do amanhã.
  Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
  Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não
  procureis fazê-los como vós.
  Porque a vida não anda para trás e não se demora
  com os dias passados.
  Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são
  arremessados como flechas vivas.
  O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos
  estica com toda a sua força.
  Para que suas flechas se projetem, rápidas e para
  longe.
  Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja
  vossa alegria.
   Pois assim como ele ama a flecha que voa, ama
   também o arco que permanece estável.


  E alguém disse: "Fala-nos do Amor".


                              O  AMOR...

"Quando o amor vos fizer sinal segui-o; ainda que os seus caminhos
sejam duros e difíceis. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir. E quando vos falar, acreditai nele; apesar de a sua voz poder quebrar os vossos sonhos como vento norte ao sacudir os jardins. Porque assim com o vosso amor vos engrandece, também deve crucíficar-vos. E assim como se eleva à vossa altura e acaricia os ramos mais frágeis que tremem o Sol, também penetrará até às raízes sacudindo o seu apego à Terra. Com o braçada de trigo vos leva. Malha-vos até ficardes nus. Passa-vos pelo crivo para vos livrar do joio. Mói-vos até à brancura. Amassa-vos até ficardes maleáveis. Então entrega-vos ao seu fogo, para poderdes ser o pão sagrado no festim de Deus. Tudo isso vos fará o amor, para poderdes conhecer os segredos do vosso coração, e por este conhecimento vos tomardes o coração da Vida. Mas, se no vosso medo, buscais apenas a paz do amor, o prazer do amor, então mais vale cobrir a nudez e sair do campo do amor, a caminho do mundo sem estações, onde podereis rir, mas nunca todos os vossos risos, e chorar, mas nunca todas as vossas lágrimas. O amor só dá de si mesmo, e só recebe de si mesmo. O amor não possui nem quer ser possuído. Porque o amor basta ao amor. E não penseis que podeis guiar o curso do amor, porque o amor, se vos escolher, marcará ele vosso curso. O amor tem outro desejo, senão consumar-se. Mas se amarem e tiverem desejos, deverão se estes;  fundir-se e ser um regato corrente a cantar a sua melodia à noite.

       Conhecer a dor da excessiva ternura. Ser ferido pela própria inteligência do amor, e sangrar de bom grado e alegremente.
   
        Acordar de manhã com o coração cheio e agradecer outro dia de amor. Descansar ao meio dia e meditar no êxtase do amor. Voltar a casa ao crepúsculo e adormecer tendo no coração uma prece pelo bem amado, e na hora, um canto de louvor.


                              (Khalil Gibran)
       



 

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