quarta-feira, 16 de março de 2011

O FRIO QUE VEM DE DENTRO

       Seis homens ficaram bloqueados numa caverna por uma
avalanche de neve e teriam de esperar até o amanhecer para
serem socorridos. Cada um deles trazia um pouco de lenha
e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se
aqueciam. Todos sabiam que, se o fogo se apagasse, o frio da
madrugada os mataria; logo, para que a fogueira se mantivesse
acesa, cada um deveria colocar nela o seu feixe de lenha. Era a
única forma de sobreviverem. Mas um dos presentes olhou
demoradamente para os outros cinco e, vendo que um deles tinha
a pele escura, pensou: "Não vou desperdiçar a minha lenha para
aquecer um negro." E, assim, guardou-a, protegendo-a dos olhares dos demais.

      Em seguida, o homem bem vestido que esta ao seu lado olhou
ao redor e, vendo um pobre montanhês de aspecto rude, com roupas velhas e remendadas, calculou o valor da sua lenha e
pensou: "Eu, dar a minha lenha para aquecer essa maltrapilho?
Nem pensar!" E este também protegeu o seu feixe de lenha.

     Um outro homem, com os olhos faiscando de ira e de ressentimento, olhando para o aspecto abastado de alguns dos
presentes na caverna, pensou de modo muito prático: "Pode ser
que eu precise desta lenha para me defender; além disso, eu
jamais ajudaria a salvar aqueles que me oprimem."E, então,
guardou sua lenha com cuidado.

     O pobre da montanha, por sua vez, conhecendo mais que
os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve, pensou:
"Essa nevasca pode durar vários dias; vou guardar minha lenha."

     Havia entre eles um homem que parecia alheio a tudo, um
sonhador. Este olhava fixamente para as brasas; nem lhe passou
pela cabeça oferecer o seu feixe de lenha para alimentar a fogueira - o seu deleite pessoal em apreciar o fogo o impedia de
pensar em ser útil naquele momento.

    Por fim, havia um hnomem que trazia nos vincos da testa e
nas mãos calosas as marcas de uma vida de trabalho. Este pensou
rapidamente: "Esta lenha é minha, custou o meu trabalho e não
a darei a ninguém, nem mesmo o menor dos gravetos."

    E, assim, cada qual com seus pensamentos, os seis homens
permaneceram imóveis ao lado de uma fogueira que foi se extinguindo até apagar-se, com a última brasa cobrindo-se de cinzas.

   Ao alvorecer, quando os homens do socorro chegaram na caverna, encontraram seis cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha.

   Olhando para aquele triste quadro, o chede da equipe de socorro disse:


   - O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de
dentro.
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário