sábado, 4 de agosto de 2012

O teu riso



Tira-me o pão, se quiseres,


tira-me o ar, mas não


me tires o teu riso.






Não me tires a rosa,


a lança que desfolhas,


a água que de súbito


brota da tua alegria ,


a repentina onda


de prata que em ti nasce.






A minha luta é dura e regresso


com os olhos cansados


às vezes por ver


que a terra não muda,


mas ao entrar teu riso


sobe ao céu a procurar-me


e abre-me todas


as portas da vida.






Meu amor, nos momentos


mais escuros solta


o teu riso e se de súbito


vires que o meu sangue mancha


as pedras da rua,


ri, porque o teu riso


será para as minhas mãos


como uma espada fresca.






À beira do mar, no outono,


teu riso deve erguer


sua cascata de espuma,


e na primavera , amor,


quero teu riso como


a flor que esperava,


a flor azul, a rosa


da minha pátria sonora.





Ri-te da noite,


do dia, da lua,


ri-te das ruas


tortas da ilha,


ri-te deste grosseiro


rapaz que te ama,


mas quando abro


os olhos e os fecho,


quando meus passos vão,


quando voltam meus passos,


nega-me o pão, o ar,


a luz, a primavera,


mas nunca o teu riso,


porque então morreria.






PABLO   NERUDA




















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