sábado, 14 de agosto de 2010

TUAS MÃOS (POESIA DO POETA CHILENO PABLO NERUDA)

"Quando tuas mãos saem,
  amada, para as minhas,
  o que me trazem voando?
  Por que se detiveram
  em minha boca, súbitas,
  e por que as reconheço
  como se outrora então
  as tivesse tocado,
  como se antes de ser
  houvessem percorrido
  minha fronte e a cintura?

  Sua maciez chegava
  voando por sobre o tempo,
  sobre o mar, sobre o fumo,
  e sobre a primavera,
  e quando colocaste
  tuas mãos em meu peito,
  reconheci essas asas
  de paloma dourada,
  reconheci essa argila
  e a cor suave do trigo.
  A minha vida toda
  eu andei procurando-as
  Subi muitas escadas,
  Cruzei os recifes,
  os trens me transportaram,
  as águas me trouxeram,
  e na pele das uvas
  achei que te tocava.
  De repente a madeira
  me trouxe o teu contacto,
  a amêndoa me anunciava
  suavidades secretas,
  até que as tuas mãos
  envolveram meu peito
  e ali como duas asas
  repousaram da viagem."


         (Pablo Neruda)

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