segunda-feira, 30 de agosto de 2010

GOSTO QUANTO TE CALAS

"Gosto quando te calas porque estás como ausente,
  e me ouves de longe, minha voz não te toca.
  Parece que os olhos tivessem de ti voado, e parece
  que um beijo te fechara a boca.

  Com todas as coisas estão cheias da minha alma
  emerge das coisas, cheia da minha alma,
  borboleta de sonho, pareces com minha alma, e te
  pareces com a palavra melancolia.

  Gosto de ti quando calas e estás como distante.
  E estás como que te queixando, borboleta em
  arrulho.
  E me ouvez de longe, e a minha voz não te alcança:
  Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

  Deixa-me que te fale também com o teu silêncio,
  claro como uma lâmpada, simples como um anel.
  És como a noite, calada e constelada.
  Teu silêncio é de estrela, tão longínquo e singelo.

  Gosto de ti quando calas porque estás ausente.
  Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
  Uma palavra então, um sorriso falam.
  E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.


                    (Pablo Neruda)
  

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