sábado, 21 de agosto de 2010

CANÇÃO

"Não te fies do tempo nem da eternidade,
  que as nuvens me puxam pelos vestidos
  que os ventos me arrastam contra o meu
  desejo!
  Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
  que amanhã morro e não te vejo!
  Não demores tão longe, em lugar tão
  secreto,
  nácar de silêncio que o mar comprime,
  o lábio, limite do instante absoluto!
  Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
  que amanhã eu morro e não te escuto!
  Aparece-me agora, que ainda reconheço
  a anêmona aberta na tua face e em redor
  dos muros o vento inimigo...
  Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
  que amanhã eu morro e não te digo..."

             
                  (Cecília Meireles)
 

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