sábado, 14 de agosto de 2010

VENCEDOR (POESIA DE AMADEU AMARAL)

"Um dia, enfim, na senda em que
  vais, dura e flórea,
  ao termo chegarás da exaustiva escalada;
  e, depondo o bastão, a lira, a cruz, ou a
  espada,
  cingirás o laurel da mais alta vitória.

  Um bardo, uma ovação, troféis... Depois,
  mais nada.
  Inda todo a fremir da áspera trajetória,
  entrarás bocejando a áurea porta da
  glória,
  e olharás com surpresa a multidão calada.

  Olhá-la-ás com rancor, vendo-a a seguir a
  esmo,
  vaga a eternos vaivéns e remoinhos sujeita.
  E não terás razão, porque a glória é assim
  mesmo.

  A onda humana avançou, cresceu ergueu-te
  numa investida triúnfal; depois, recuou
  despeita...
  Como há de a onda parar, para que brilhe a
  espuma?


               (Poesia 1931 - Amadeu Amaral)
  

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