quarta-feira, 26 de maio de 2010

AMIZADE

            A primeira amizade precisa ser consigo mesmo, mas muito raramente se encontra uma pessoa que seja amistosa consigo mesma. Somos inimigos de nós mesmos, enquanto ficamos esperando, em vão, ser amigos de alguém mais.

            Ensinaram-nos a condenar a nós mesmos. O amor-próprio foi considerado como um pecado. Não é. Ele é a base de todos os outros amores, e é somente através dele que o amor altruísta é possível. Como o amor-próprio foi condenado, todas as outras possibilidades de amor desapareceram. Essa foi uma estratégia muito ladina para destruir o amor.

           É como se você dissesse a uma árvore: "Não se alimente da terra, isso é pecado. Não se alimente da lua, do sol e das estrelas; isso é egoísmo. Seja altruísta, sirva outras árvores." Parece lógico, e esse é o perigo. Parece lógico: se você deseja servir os outros, sacrifique-se; servir significa sacrificar-se. Mas, se uma árvore se sacrificar, ela morrerá e não será capaz de servir nenhuma outra árvore; de maneira nenhuma será capaz de existir.

           Ensinaram-lhe: "Não ame a si mesmo." Essa foi praticamente a mensagem universal das pretensas religiões organizadas. Não de Jesus, mas certamente do cristianismo; não de Buda, mas do budismo - de todas as religiões organizadas, este foi o ensinamento: condene a si mesmo, você é um pecador, você não tem valor.

            E, por causa dessa condenação, a árvore do ser humano se retraiu, perdeu o brilho, não pode mais festejar. As pessoas estão se arrastando de qualquer jeito, não têm raízes na existência - estão desenraizadas. Elas estão tentanto prestar serviço aos outros e não podem, porque nem foram amistosas consigo mesmas.

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